O down do amor.

Eu tenho o down do amor. Não tenho, definitivamente, talvez, o dom do amor. É ruim. É amor? É dor. É ruim, muito ruim os abismos de linguagens, de idiomas. Eu falo A, ele escuta C. Eu peço D, ele me dá o F. Não há comunicação e ao mesmo tempo talvez precisemos de Braille. Estamos cegos pela tentativa insana de competição. Pelo esquecimento do valor que o outro tem. Antes, o que era sofrimento de amor, agora se perfaz em sentimento de costume e monotonia. Não há mais a ofegância do primeiro olhar e a comunicação ecoa num lugar vazio. Tudo é cinza, a manhã, a tarde e a noite. Há a especulação ainda de ser feliz, mas o esquecimento dos primeiros instantes, mesmo que ainda se lutando por lembranças que venham trazer um minuto de docilidade, não permite que se seja. Não há comunicação. Grita e nada fala. Antes, ao que se ouvia muito, tapa-se os ouvidos numa atitude hostil de fuga e desrespeito. E o meu valor? O valor do que se lutou tanto pra conquistar e quando tem vira as costas e não atende mais nem quando o chamado é para um pouco de afago e ternura. Grito para que se lembre do que está à frente e do que passou, mas o cinza embota a visão. Níveis diferentes. São ruins os abismos. Abismos mentais, intelectuais, sociais, comportamentais. Não há como continuar dando murro em ponta de faca, querendo tirar leite de pedra, senão o costume do cotidiano aterrorizante consome o que ainda resta de esperança de felicidade interior. O amor pode sim, ser lindo, mas é feio quando alguma coisa não se faz em prol dele. A comunicação está desgastada e eu preciso parar de ouvir tanto e de falar tanto. O anonimato que me atrai fica longe e o sangue fica quente e sinto minhas mãos dormentes. Me apavora o me debater entre palavras soltas, sem sentido algum. Há frieza no olhar, isso quando há olhar. Há impotência no abraço. Onipotência nas discussões. Ruído na comunicação. Egoismo nos objetivos. E eu cansada de querer amar, sem precedentes. É abismal. Diferenças que não mereço e não preciso. Tantos bosques lá fora e eu aqui entre espinhos? Respiração, comunicação, leveza, normalidade. É ruim. É amor? É dor. Tem que ter dom, ter que não ser down.

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