Desisti de ser mulher.
Eu desisti de ser mulher por tantas e tantas razões mais que escreveria um livro de mil páginas. Obviamente o externo me mostra como uma e surpreendentemente ou metafisicamente meus espaços tenham ficado livres para que eu seja além do que se vê. Desisti de ser mulher e ser delicada. Desisti para ser inteligente e sagaz. Desisti para ser livre. Desisti de ser mulher para bordar minha vida com singeleza, chorar por conta dos hormônios contraventores e morrer de amor quando eu quisesse. Ou nunca mais quisesse. Desisti de ser mulher. Nenhuma androginia, apenas desisti de ser mulher. Desisti naquele dia que, sentada na carteira da escola, aos treza anos, um sangue quente molhou minha calça, a carteira e eu fiquei assustada, sem saber o que fazer direito. Desisti também naquele dia que aquele rapaz com cara de santo que frequentava meu primeiro local de trabalho veio por trás de mim e me agarrou, prendendo meus braços, eu com 17 anos e ele com seus trinta e poucos. Fiquei sem mov