Chegou o momento na vida dela em que nada mais é como antes. Antes, Eva não falava sozinha. Sentia um vazio enorme no vazio e na multidão não se sentia só. Hoje ela se sente só na multidão. E Eva fala sozinha. Naquela árvore que não dá mais frutos ela sabe que não volta mais, porque simplesmente ali não dará frutos. O sabor do fruto Eva já conhece bem e lambe os lábios só de lembrar. Para que tentar? Sua sensatez beira a um Cubismo excêntrico e disforme, que nem Picasso saberia pintar. Chegou sim, o momento em que as coisas são zero ou 10. Se forem 7, 8, já não fazem sentido ou podem passar batido. O momento é de acordar e ficar com os olhos fechados, olhando pro teto, num feriado mental eterno. Não, não há mais pressa em correr, arfar. Seus sentidos estão abertos às percepções mais idiossincráticas, mas sua mobilidade é pouca, vaga, lânguida. Ela quer cores em sua vida, cores, mas a tinta ela não vai escolher mais. Ela não quer ir mais tanto, ela quer ficar e ficar ...