Uma mão lava a outra?

Faz assim, toda vez que você for fazer alguma coisa boa, ajudar alguém, ser solidário, altruísta e prestativo, principalmente aos que escolheu como parceiro ou parceira de vida, faça porque quer. Essa é a recomendação que o amor dá, aceitemos ou não. Caso você faça e depois fique remoendo uma possível falta de retorno, da tão falada e desejada reciprocidade, reavalie seu amor.

Tenho percebido que quem é seguro em seu amor próprio, não tem problemas mais sérios de autoestima ou não tem necessidade alguma de provar seu 'poder', ou assegura sua sobrevivência emocional, não tem nenhuma necessidade de cobrar retorno por absolutamente nada. Apenas faz e, caso se sinta em deficit de atenção, sua satisfação será em buscar dentro de si respostas para o que sente, não pelo que o outro faz, ou não faz.

Amo de verdade muito poucas pessoas hoje em dia, dentro da minha peculiar sinceridade, mesmo entendendo que Jesus mandou amar ao próximo como a mim mesma. É que amor, assim, difícil, que não requer nada em troca, é bem diferente desse amor banalizado, desse oba-oba que fizeram, um movimento estranho de se dizer 'eu te amo' a torto e a direita. Amar é difícil, é especial, é, muitas vezes, nadificação, sim. Amar ao próximo, entendo eu, como Jesus disse, é não defraudar o outro, não maleficar nem prejudicar ao próximo como não gostaria que fizesse a você. Você não conhece todo mundo no mundo, mas ame, ou seja, não faça o mal que não gostaria que fizessem a você.

Tenho visto e ouvido absurdos, relações onde a cobrança de reciprocidade descambam em agressões, violência, troca de farpas tão desagradáveis que fico questionando o porquê se fez, então. É amor? É com o coração amolecido e entregue ao desejo de ver o outro bem ou é apenas para o seu próprio angariamento de pontos, no jogo que porventura a tal relação já sobreviva?

O mais engraçado é que cada tipo de relação tem seu movimento natural de ser, de estar, de acontecer. Nas relações mãe e filhos, por exemplo, quando a mãe age, não faz aquela lista no final do dia, cobrando reciprocidade por atos absurdamente naturais. É, sim, naturais, o velho clichê do amor incondicional. Sabe por que? Porque é amor. Guardadas as devidas exceções, porque existem mães que cobram também, mas, óbvio, a maioria já tem que dar um peito por longos períodos, sem, quando esse ser humano cresce, querer de volta o que se deu, por causa do amor natural.

Minha consideração acerca disso passeia na premissa de que, se não está disposto a amar sem cobranças, apenas não se envolva. É isso mesmo. Você pode escolher isso também para sua vida. Ninguém pode lhe obrigar a nada em um País livre, onde você pode escolher com quem casar, se relacionar. Em alguns países do Oriente Médio, Índia, por exemplo, onde os casamentos são arranjados e a mulher tem uma posição de subserviência, a obrigação é clara, desde sempre.


Ou, não adote aquele bichinho que lhe ama sem lhe cobrar nada, apenas que o alimente e lhe dê carinho. Ou, não tenha filhos. Ou, por favor, não brinque com pessoas. São tantas possibilidades de reflexão onde você pode e deve sim, ESCOLHER amar, já parou pra pensar nisso? Repito, se escolhe amar, vai ter que escolher também cuidar, proteger e será, aí sim, obrigado a obedecer ao pacote imenso das leis do amor. Entendeu?

Se você diz amar, apenas ame. Se tem de volta ao seu desvelo e comportamento altruísta, desamor, violência, desagravos, apenas reavalie a relação e não aquele objeto de desejo que um dia VOCÊ escolheu. Alguma coisa já havia ou há, alguma rasura, algum problema de personalidade (seu ou do outro). Vale a pena? É tão grave a ponto de lhe agredir fisicamente ou abusivamente? Ou, se não é assim tão grave que mereça o afastamento, as vezes até legal, onde você está 'errando' também? Embote paixões e se permita avaliar isso antes de entrar de vez ali! Sinais são claros, a gente que não enxerga! 

Ou então escolha ter ao seu lado apenas as relações que eu denomino 'NATURALESCAS', aquelas que seu coração fica leve, ama sem pensar no amor, sente sem questionar o que sente, deseja apenas o bem, sem sequer olhar o que faz, e quando vê, o outro está embevecido de proteção, desvelo, carinho, bem-estar e tudo mais que você nem percebeu que fez ou deixou de fazer. Se é recorrente não encontrar isso em relações afetivo-emocionais, escolha não se envolver a ponto de ter que cultivar estoques bélicos, para cobrar e, consequentemente, ser cobrado. Não consigo lidar mais com isso. 

Não consigo descer ao nível dessas relações, quebrando meu estado de espírito, me afastando espiritualmente do que entendo hoje ser meta de vida, estar feliz sempre, feel good always. Claro, fico irritadiça, sou intolerante com muitas pessoas e coisas, brigo e sou humana, naturalmente humana, mas daí a escolher fazer pessoas de vodu, diariamente, destruindo reputações alheias por conhecer profundamente suas dores, cobrar o que naturalmente faço (pelo meu elevado estado de espírito que tento manter hoje) é, para mim, devastador e não mais escolho isso.

Entendamos de uma vez por todas que a vida é feita de escolhas e até o que você não escolheu um dia, (família e outras coisas), você pode escolher o grau de envolvimento que pode ter ou desenvolver com isso. Se for escolher amar, escolha direitinho. Sim, amor salva vidas, salva situações, salva você. Tem que ser com a alma em brasa, guardando suas brigas internas com seu ego, sem vomitar isso no outro, sem exigir suas tais boas ações (que devem ser naturais) em troca.

Senão, não é amor.   



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

'...todas as cartas são...'

O bordado - lado avesso.

Darwin, Lamarck, Deus e Eva.