Um dia para apenas existir.

Alguns dias deveriam ser feitos para apenas existir. Não que eu não seja grata, mas, hoje é domingo e eu gostaria mesmo de apenas existir, sem comer, sem precisar beber, tomar banho, nem mesmo pensar. Não é tristeza nem autocomiseração, é apenas um desejo de silenciar um pouco a vida, a mente, o corpo, a existência. Não é desejar morrer, é só pausar um pouco a necessidade de futuro ou os ataques mentais julgadores do passado. Porque parece que passado mais lhe julga que enternece. Deve ser porque hoje é domingo e todo domingo eu sinto essa vontade, de apenas existir, sem ver ninguém, sem falar com o mundo externo, nem interno. O único lugar que senti vontade de existir foi na escrita, isso que agora faço. Heidegger define como existência toda a amplitude das relações recíprocas entre esta (existência) e ser, e entre esta e todos os entes; através de um ente, que ele julga privilegiado, que é o homem. E complementa que, de acordo com esse significado, só o homem existe; que outras “coisas” são, mas não existem. Não sei concordo com Heidegger, hoje. Hoje eu estou rodeada de existência e, claro, apenas eu gostaria de não existir. Seria só por hoje mesmo. Seria um mono
lito, apenas isso. Dormir seria uma opção, mas, meu cérebro, que é treinável, me submete à rotina de acordar cedo, mesmo no domingo. Dormir deixa de ser uma opção, já que precisaria de inibidores de agitação mental e desisti deles há tempos. Mas, dormir durante todo o dia seria o céu. Quando acordasse, o tempo já teria passado, o sol já teria dado sua volta e a lua já começaria sua função, e, deveria apenas faze-la nas marés, não mais no meu horóscopo. Quanta lamentação, sem motivos, alguns diriam. Meu direito de desejar apenas existir hoje não é militante. Que julguem, porque nem eu me julgo, apenas aceito esse desejo, sem devaneios, porque sei que ele não vai acontecer nunca. Tenho que existir de maneira eficaz. Estou. Sou. Os papéis a mim concedidos pela vida não me deixam sair desse desejo para a realização e está tudo bem também, mas, que eu desejo isso hoje, desejo. Cheguei ali na janela e o sol está brilhando. Os vizinhos sã felizes e radiantes. Existem, hoje, domingo. Um absurdo. Às vezes acordo com a mesma soberba existencial deles, mesmo. Me acho a existencialista mais existencialista possível, que Sartre invejaria. Mas, hoje não. Hoje, eu só queria existir, sem SER nada, só e apenas existir. Bem assim, E só. O post nesse blog, que há muito tempo não posto nada, é esse. 

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