O chinelo..
Onde andará aquele chinelinho que minha mãe guardava detrás da porta, prá quando a gente fazia alguma traquinagem, usar na nossa região glútea ou nas mãos? Lembro-me que a única vez que apanhei de minha mãe, é, a única, porque não me lembro de nenhuma outra vez, foi porque eu, enquanto esperava prá algum evento, com um vestidinho novo, fiquei literalmente roendo a bainha toda do vestido. É...roendo, comendo a borda toda da bainha...mas gente, prá que?..Eu sempre fui uma garota normal, acreditem, mas, roer a bainha do vestido é demais! Mainha, na sua excelência em educar, perdeu, com toda razão, a paciência que tinha comigo e me tascou vários bolos na mão. Sempre quem apanhava demais, coitado, era meu irmão, porque, na mera possibilidade dele encostar o dedo em mim, eu já estava berrando por minha irmã mais velha, já que eu sou a caçula, meu irmão é no meio e ela a mais velha. Eu sobrava sempre na perturbação dele. Ela vinha de lá já dando uma voadora nele, se embolavam no chão, sempre por minha causa, enquanto eu ficava só assistindo aquilo, esperando meus pais chegarem dos respectivos trabalhos, já que trabalhavam o dia e a noite inteira que Deus dava, no ofício de professores e pro governo, prá destilar o relatório sobre os aprontes do meu irmão. Era outra surra nele, com toda certeza. Se fosse mainha quem dava nele com o chinelo eu ficava mais tranquila, do que se fosse meu pai, com as mãos, porque ele chorava mais. Parecia que a mão de painho era mesmo mais pesada. Mas eu não apanhava com aquele chinelinho, até o episódio da roedeira no vestido. E eu passava horas ali olhando prá ele, pensando em tudo o que ele representava prá nós. Pro meu mano acho que representava eu, em pessoa, e a vontade que ele tinha de usa-lo em mim..hehehe. Prá minha mana mais velha, um nada, já que ela, quando eu já me entendia por gente assim, ela já estava era entre namoricos, não mais precisava de sovas, com o chinelinho ou não. Hoje eu não tenho mais materialmente falando quem me dê umas sovas, ou uns bolos de vez em quando, mas, a imagem daquele chinelinho de couro às vezes me vem à memória, em forma de outras coisas que me ensinam, me repreendem, me fazem saber o que é certo e o que é errado e se isso de certo e errado é certo e/ou errado mesmo. Noutras vezes, vejo que eu permito que o chinelinho seja usado em alguém, e eu ainda fico só olhando, esperando que aquele alguém, aprenda algo. Minha mãe já se foi, meu pai não usa mais as mãos com tanta habilidade e força, por conta da idade e que não precisamos mais de sovas, eu cresci, meus irmãos também, e, os "chinelos" não existem mais naquela forma, mas, com certeza, estão sempre e simbolicamente, em algum lugar, ali, na espreita...
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