Daniel e Hugo. Eu sou mãe, é?

Casamento. Setembro. Em fevereiro seguinte, a menstruação atrasa. Exame: positivo. Desespero. 18 anos apenas e um monte de sonhos pro futuro. Vestibular, trabalhos, nova cidade, nova vida de casamento. Choros intermináveis. Ligar pra mãe e pra familia, já que morava em outra cidade, pra contar do primeiro neto. Uma alegria só lá, uma bagunça emocional enorme, cá, em mim. Alguns dias depois, tento fechar a calça apertadinha pra um corpo gostosinho de adolescente e não consigo. Mais alguns dias e sento pra comer e vem aquela ânsia de vômito, náuseas, vomitação total. Nada seduz na hora de comer. Depois do terceiro mês, cessam os enjôos e lá vem a monstruosidade em comer e devorar, se deixarem, até as mesas, as cadeiras, a geladeira inteira. A barriga crescendo. Ouvir o coração, tudo estranho. Parecia um filme de ficção (tipo MIB-Homens de Preto), aquilo pra mim. Algo crescendo dentro da minha barriga. Sim, claro, era um bebê, meu filho, mas, no auge dos meus18 anos, na minha peculiar sinceridade, não sentia nada disso. Parto chegando. Começam as contrações espaçadas de meia em meia hora, na sexta a tardezinha. Corre-corre. Médico manda voltar pra casa porque não tem dilatação. Pra resumir, passei a madrugada inteira entre dores insuportáveis, indefiníveis, indo e voltando ao médico, que sempre estava dormindo, com cara inchada de sono, porque "não estava ainda na hora". Até que fui parir, depois de induzida pelo soro lá absurdo, que estimula as contrações, as 3 horas da tarde do sábado. Parto que chamam de normal, mas que eu achei uma anormalidade, uma agressão, uma violência. Exausta, morta praticamente.
Daniel, meu primeiro filho, hoje com 19 anos.

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__Doutor, eu só engravido de novo, agora, esses anos depois, se você me ligar (as trompas), e o parto for uma Cesariana.
__Ok, engravide então e tentarei lhe convencer do contrário durante a gestação, mas se não conseguir, ligo.
Eu tinha 24 anos e os médicos não ligam com essa idade. Mas, eu não queria mais filhos, mas como a combinação matrimonial era de dois, que venha logo. Gravidez. Aquele processo todo de novo: Enjôos, perde roupa, etc. Bem, dessa vez minha mãe não existia mais aqui na terra, preparei melhor as coisas, até meu emocional. 8º mês entrando ainda. Vou ao médico na cidade de Itabuna, onde morava. Meu médico maravilhoso, ele passa um ultrasom. Uma tarde, vou buscar o resultado e, voltando do laboratório, com o exame no colo, dirigindo, o meu médico cola ao meu lado na sinaleira. Eu mostrei de lá do carro a ele o exame que dizia: "Líquido acentuadamente reduzido".
__ Geraldo! Ói! Que quer dizer isso, moço?
__ Faça a volta e vá agora pro meu consultório, urgente!
Fiz a volta no carro e fui. Lá ele me disse que tinha que "tirar" o nenem logo porque estava sem líquido amniótico. Bla, bla, bla..e eu: "sim, mas..voce vai me ligar, né?"
__Helena, eu estou lhe dizendo que seu filho será prematuro. Voce está entrando no oitavo mês agora.
__Tá, mas eu quero assim mesmo.
__Amanhã cedinho vá pro hospital que ele vai nascer.
Parto tranquilinho, eu vendo tudo, meu médico Kid Vinil (parecia muito com ele), cantando, etc. Hugo nasce. Um belisco de gente. Foi lá ficar em observação, mas o pediatra volta e diz que é pequenininho mas é muito saudável. Kid Vinil olha pra mim e eu: "Tira essas trompinhas, meu fio!"..ele cortou as trompas e me mostrou, dizendo:
__Já era a fábrica aqui, viu, negona??
Hugo, meu segundo filho, hoje com 14 anos.