Eu acho que você realmente...
Sem querer estava ouvindo um casal meio que discutindo na rua ontem. Ele dizia pra ela, nos intervalos do diálogo, coisas meio hostis e vice-versa. Chamo de intervalo de diálogo, espaços entre o tema que estavam discutindo. Dizia ele, entre outras coisas, por exemplo, que ela não usasse aquele batom, porque estava ridículo, e ela não retrucava. Permanecia no mesmo tema discutido. Num momento, como outro exemplo, ela virou pra ele e brincando disse: “Páre de ser 'viado' fulano”, ele respondeu "não chame seu marido assim, moça, sou seu marido, me respeite..”. Bem, e voltavam ao tema. Fiquei pensando em quantas vezes essas coisinhas ditas, em alguns relacionamentos meus, sejam afetivos, sejam de amizades, são deixadas pra lá, não são questionadas, não são ditas, e vão se acumulando, acumulando, até que um dia, quando a relação está fragilizada, tudo vem à tona. O cotidiano torna minúncias de comportamento tão banais, às vezes. Impressionante como a gente tem tendências terríveis de não manter a honestidade, o vigor, o respeito, o cuidado no que se é dito, como no início, quando a relação vai se tornando mais íntima. Gosto muito de trazer à memória coisas boas a respeito do outro, hoje em dia, para não descambar na hostilidade natural que os relacionamentos tendem a cair. Quantas vezes acompanho casais que, no início do relacionamento, são uns doces um com o outro, em respeito, amizade, amor, carinho, e, passado um tempo, nossa...parece que tudo que são se estampa num canibalismo desenfreado, por trocar farpas, dizer coisas desagradáveis, que nem um nem outro precisa ouvir. E o pior, nem se apercebem disso, ou, trazendo prá mim, até percebi algumas vezes, mas permiti que acontecesse. Já ouvi algumas pessoas dizerem que isso é um processo natural. É natural porque a nossa tendência é essa. O homem-humano-carne é realmente tendente a muita merda (desculpe o termo). Mas, não quero que como outras coisas, isso seja 'natural' em mim. Quero sim policiar minhas palavras ditas, escritas, meus pensamentos a respeito de alguém, para que sejam conservados sempre em primeiro lugar o respeito, o carinho, o sorriso sincero. Quando acha-se algo que não seja isso, por conta do curso natural do humor de cada um, que sejam ditas e discutidas as relações de forma sincera, mas sem hostilidades, pricipalmente ditas, verbalizadas. Se não está mais a fim daquela criatura perto de você, seja sincero e se afaste, mas não se permitam trocas de farpas e coisas desagradáveis um com o outro. O cotidiano, a mesmice, os costumes e a rotina não podem prejudicar as relações, por causa da nossa tendência à degeneração. Uma luta diária mesmo. Tem que ser. E essa luta é agradável, quando se tem por meta, conservar amigos e amores, que valham a pena.
Comentários
Beijo, Helena. E para nós, estas que percebem, a beleza do amor em paz.