Porto seguro...

Agulha de crochê. Linhas, continhas. Minhas ferramentas, pregos, martelo, chaves de fenda (que comprei nem sei pra que). Cada canto da minha casa. Meu computador, sapatos que não uso mais. Estante com livros que já li, apostilas, agendas velhas. Caixinha com cartas e fotos de amigos e amores. Tesoura, cola, tintas que eu mesma pintei as paredes. Meu ar condicionado que me ajuda a dormir tão bem aqui. Meus lençois, toalhas. Cada canto. Quadros, tapete velho, palco de tantos amigos, amores. Tv e dvd que comprei com algum esforço por detestar supérfluos. Minhas panelas, vasos, pratos que eram da familia. Cada coisa. Eu me mudei. Geograficamente falando, me mudei, mas cada cantinho é reconhecidamente meu e isso me deixa muito orgulhosa de mim mesma. Eu me emociono com essas conquistas e dane-se meu senso perseguidor de que a felicidade está em coisas grandiosas. Parece papo de livro de auto-ajuda (sempre escrevo isso, acho que na tentativa de me justificar). Considerando que sou altamente desapegada, cada detalhe desse, da agulha ao mais caro monetariamente, levo comigo a cada ida. Fui porque enjoei da situação e não da minha casa, do meu cantinho. É sagrado sim. Ter pra onde voltar sabendo que existe um paraíso no travesseiro que foi da minha avó e que cheira a travesseiro velho, mas eu adoro. Não, acho que definitivamente sou louca mesmo. Mas minha loucura se perfaz em sanidade toda vez que vou e volto. Eu me jogo no pouco, sendo esse pouco, intenso. Acho que eu poderia viajar o mundo inteiro, ter carros, etc, mas, estaria dando o mesmo valor a isso aqui como dou hoje, só pelo fato de ter sido da minha mão o nascer. Contraditoriamente, abri mão um dia de uma vida financeira estável, de um casamento estável, até financeiramente falando, carro zero, etc, por um bem-estar emocional e liberdade , dentro de uma coerência. Precisava encontrar o meu eixo moral, antes ditado pela igreja e tantas outras coisas, pessoas e conrcunstâncias. Na metrópole vou e volto em lugares lindos, morando em local privilegiado, contemplando sóis lindos, mas que no lufa-lufa da vida não deixa muito tempo prá enjoar do dia-a-dia como aqui, enjoei. Não, eu quero voar sempre vôos, sejam eles rasantes ou altos, mas aterrissar onde meu coração está amarradinho, aqui, na minha casa, entre minhas agulhas, minhas continhas, livros velhos que já li... Agulha de crochê. Linhas, continhas. Minhas ferramentas. Cada canto da minha casa...

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