...

Lá estava ela. Sentada na mesa do bar como se nada quisesse e querendo tudo. Seus sentidos todos estavam atentos ao público masculino, já que a sua sobrevivência depende dele. Suas pernas bem torneadas à mostra em um vestido curtíssimo, brilhavam, talvez pelo banho demorado, tanto de água como de cremes. Vaidosa. A vaidade é sim aliada dos que querem seduzir. Seus pés calçados em uma sandália que só de olhar já atraíam, tanto a homens como a mulheres, com salto fino, diferente, pés quase todos de fora. Os cabelos não são dela e dá para ver que são falsos, mas seduzem mesmo assim. As unhas vermelhas ajudam as mãos a ficarem mais belas, segurando o copo com líquido vermelho, com uma cereja, indo e vindo, girando ao redor da boca do copo que a essa altura já está vermelho, sujo de um batom escarlate. A cereja é perseguida tanto pelo olhar dela mesma como de muitos que passavam. O ultimo cliente da noite se aproxima e lá vão eles, depois de vários goles, para o sexo, cheio de êxtase e volúpia. Ao final da noite, já anunciando o brilho do dia, ele deixa o dinheiro, dizendo ainda palavras sussuradas ao ouvido da mais sedutora das mulheres, pelo menos naquela noite, e vai embora. Ela dorme, exaurida, entorpecida. No outro dia bem tarde, já quase é noite de novo, corre até a janela, olha a rua e espera seu amor chegar, de novo.. e de novo. Ela o espera todos os dias, segurando um terço, rezando, balbuciando sempre pedidos ininteligíveis a qualquer ser humano, como se daquela chegada dependesse toda a sua vida. Já não há mais batom vermelho nem sandália alta. Seu cabelo está desgrenhado, seu rosto agora brilha com lágrima. O amor que ela espera nunca existiu. Ele ainda virá, será seduzido, talvez por alguém que ela até ainda desconheça...

Comentários

ARMANDO MAYNARD disse…
Ela acreditada no seu poder de sedução, quando é a trabalho, mas quando é por um amor, no lugar de seduzir,reza...Um abraço,Armando

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