Estava mesmo procurando uma forma de associar uma imagem que tenho de algumas pessoas, a algum tipo em especial, histórico, ou não. Gritou ao meu cérebro de forma ululante a imagem do "Bobo da Corte". O bobo da corte divertia o rei e os áulicos. Declamava poesias, dançava, tocava algum instrumento e era o cerimoniário das festas. Geralmente era alguém inteligente, atrevido e sagaz e seu papel era dizer o que o povo gostaria de dizer ao rei , zombando da corte com ironia , mostrando as duas faces da realidade, revelando as discordâncias íntimas e expondo as ambições do Rei. Em geral, era um indivíduo de grotesca figura - corcunda ou anão.
Associei essa imagem a algumas figuras que conheço, geralmente inseridas em um grupo de amigos e que, de forma geral, serve de bobo da corte para este grupo. A grande e gritante diferença deste bobo da corte descrito historicamente e dos que vejo hoje em dia é que as qualidades de inteligencia, sagacidade e esperteza estão fora do cardápio, antes, as vestes, o jeito e a forma em que são tratados, são semelhantes. Geralmente, os de hoje, fumam maconha, andam chapados, são tidos como doidões, metidos a alternativos, a cultos, sem conhecerem sequer em qual terreno pisam.
Enquanto uma "corte" inteira leva sua vida inteligentemente, safos, trabalhando, estudando, os bobos da corte vivem a vida ao bel prazer dos que dele se aproveitam. E nada mais. Ele os faz rir, acredita que é deles amigo de verdade, mas ninguem, ninguem se preocupa se está bem, se está se destruindo por conta de drogas, descuido mental, físico. Nada. Antes isso me deixava indignada em ver como as pessoas são más e se aproveitam de um alguem que se deixa levar por elogios em como é 'divertido', quando na verdade, não passa de um bobo da corte.
Hoje não fico mais indignada. Eles são assim porque querem. São bobos da corte porque gostam e querem continuar sendo. As vezes até se pintam, colocam adereços semelhantes, chapéus, fazem gestos engraçados, sempre na tentativa de deixar reservada a tal parcela de importancia, talvez pela manutenção de uma auto-estima, que porventura tenham.
As vezes até dizem que ele é importante, que talvez a sua consistente presença, geralmente estabelecida de muitos anos (alguns que riem dele o conhecem ha muito, talvez desde criança) não é fugaz. Não tenho mais pena. A dó que eu tinha matei dentro de mim. Rirei destes mais ainda. Certamente até usarei alguns como meus bobos da corte particulares. Servem pra isso, se limitam a isso. Eu sou uma rainha má, aliás, nem importa se sou má ou boazinha. Eles me farão rir. E apenas me farão rir.
Comentários