Paulo Coelho para quem não quer ler Paulo Coelho.

Não gosto dos livros de Paulo Coelho. Desde que me entendo por ser pensante e leitor, leio absolutamente de tudo, mas, não sabia porque nunca consegui passar de algumas páginas, toda vez que começava (ou começo) a ler PC. Tentei, não me joguem pedras. Tentei, como uma boa leitora de tudo que não pode ser acusada de não ler Paulo Coelho. Ele sentou no Dique do Tororó fumando unzinho com um dos meus ídolos do Rock, Raulzito. Mas acho que Raul morreu por causa da cachaça e o Paulinho fumou demais, viajando até hoje. Bem, marijuanas à parte, seu misticismo, surrealismo, seilaoqueísmo não me seduz. Parte de um auto-ajuda viajante a uma psicodelia que não aturo. Achei então essa pérola na internet, que me redime de uma vez por todas:

"por Juliana Dacoregio – Você é daqueles que não gosta de Paulo Coelho, mesmo sem nunca ter lido nenhum livro dele? E sempre encontra algum amigo muito ponderado que lhe diz para não julgar sem antes conhecer? Você até concorda, mas sempre que tenta iniciar a leitura de um O alquimista da vida, não tem paciência para seguir em frente?

Pois bem, seus problemas acabaram: você pode continuar não gostando de Paulo Coelho, sem nunca tê-lo lido, e ainda desfiar argumentos que farão com que os fãs do mago-escritor acreditem que você leu a obra completa. Basta, para isso, ler Os 10 pecados de Paulo Coelho, de Eloésio Paulo, doutor em letras pela Unicamp e autor de Cogumelos do mais ou menos e Inferno de bolso.

Os 10 pecados é uma crítica irônica à obra de Paulo Coelho, dividindo as falhas do autor em dez capítulos. Os (até então) onze romances de Coelho são analisados por Eloésio, que não hesita em deixar claro que basta ler seu livro para ter certeza de que o místico não merece ser lido.

As falhas do imortal (Coelho é membro da ABL) são destrinchadas por Eloésio, mas em alguns aspectos há certo exagero, como quando ele fala da falta de sentido em algumas das histórias criadas por Coelho. Eloésio reclama do fato do escritor usar elementos religiosos mesclados a sexualidade e paganismo sem respeitar os verdadeiros aspectos da religião. Porém, Paulo Coelho escreve romances, que não tem obrigação alguma de seguir a realidade.

Discordei de Eloésio apenas nesse ponto. Creio que Paulo Coelho (ou qualquer outro autor) pode distorcer fundamentos religiosos e misturá-los à sexualidade ou a qualquer outro elemento. Porém, uma acusação da qual não discordo, que é a encheção de lingüiça de Paulo Coelho, parece ter acometido também o autor destes 10 pecados. A obra é um pouco repetitiva. Tanto que as dez falhas listadas poderiam ser resumidas em 4 ou 5, já que uma está contida dentro da outra. Além da gratuidade (a tal da encheção de lingüiça), os pecados que valem a pena serem listados são a ignorância, o desleixo, a superficialidade e a inconsistência.

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Ignorância: Os erros gramaticais cometidos por Paulo Coelho não são a prova maior da ignorância do autor, embora a abundância deles indique a falta de uma formação cultural mais sólida. Seu primeiro pecado é fazer apologia da ignorância, sempre reforçando que instrução intelectual não é algo tão necessário. Eloésio cita as várias expressões de desapreço à cultura contidas em O alquimista, como quando o narrador se desfaz de um livro por considerá-lo “um peso inútil”. A ignorância de Paulo Coelho manifesta-se também no descaso com as informações factuais, cometendo erros prosaicos, como em Veronika decide morrer, quando um médico afirma que a personagem tem uma “necrose no ventríloquo” e não no ventrículo.


Desleixo: Mesmo quando saem das mãos de revisores, as obras de Paulo Coelho apresentam mais erros do que seria aceitável, tamanha a quantidade de erros com que saem das mãos do autor. Pior do que deixar passar os erros é a justificativa tosca de que não os corrige porque “Deus pode estar escondido naquele cê-cedilha mal colocado”, como disse em entrevista à revista Veja. O desleixo apontado por Eloésio reside sobretudo no fato das obras “Paulo-coelhanas” serem mal acabadas: descuido com a linguagem, tropeços lógicos, imperícias narrativas. Enfim, uma escrita apressada, em que travessões são esquecidos e erros de grafia permanecem após sucessivas edições.


Superficialidade: A “religiosidade de almanaque” de Paulo Coelho é desmascarada. O mago-autor passeia sempre pelas mesmas idéias, apenas requentando pensamentos e filosofias de botequim. Tudo é generalizado e ele usa palavras e expressões que explicam pouca coisa, mas que dão ao leitor médio a impressão de estar aprendendo verdades profundas. Paulo Coelho faz questão de passar uma visão otimista e ingênua do mundo, o que explica, em parte, seu sucesso, de acordo com Eloésio.


Inconsistência: Aqui, novamente, o alvo é a salada mística de Coelho. Para exemplificar, Eloésio fala da constituição de uma personagem de O alquimista que é claramente inspirada na Bíblia, porém misturando elementos de Gênesis e Levítico que, segundo a narrativa bíblica, nada têm em comum. O autor de Os 10 pecados também cita que Paulo Coelho, em O diário de um mago faz uma interpretação equivocada das causas da paixão de Cristo. Como eu já afirmei, não vejo problema algum nisso, já que Paulo Coelho não é um divulgador de qualquer religião. Não advogo aqui a qualidade da obra de Paulo Coelho, mas seu direito de misturar paganismo com cristianismo ou misticismo com sexualidade.

O fato de Paulo Coelho misturar elementos pagãos com cristianismo não é o que empobrece suas obras. Afinal, ele está escrevendo ficção. Se propôs a misturar bruxos e santos e atribuir poderes curativos ao sexo: isso é um direito de qualquer escritor (seja ele bom ou ruim). Não é o fato de se afirmar católico que o obrigaria a apenas escrever observações corretas do ponto de vista do catolicismo. Nesse ponto, Eloésio exagera na crítica. Paulo Coelho faz uma salada sim, mas não é a mistura de elementos que faz a salada ruim e sim a qualidade dos elementos, dos temperos e da apresentação.

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