Não sei mais o que faço. Tô cansada de gente. Cansada de gente, do humano. Das suas doenças, das minhas doenças, do meu estado de serumano, reconhecidamente admitido. Já falei isso aqui tantas vezes. Cansada de mulher, homem, criança, velho, novo, bonito, feio, baixo, alto, santo, demônio. Dos sentimentos que o humano tem, de ter que administra-los. Eu queria que tivesse sido tudo diferente as vezes: que o homem não tivesse instituido a sociedade, não tivesse começado a coabitar em grupo. Queria poder ficar muito tempo sozinha. É. Só. Ir e vir sem saber de nada, de ninguem, sem ouvir vozes, sem precisar falar nada. Cansar de ficar só até. Suporto meus espelhos, quero suporta-los apenas. Existem tambem os sentimentos que alguem, outros sempre dizem sentir e acabam sempre lhe fazendo dar retornos que nem queria. Eu queria mesmo que tivesse sido diferente. A antropologia mostrasse apenas que o homem consegue hoje uma evolução individual e restrita, sem precisar incomodar, ferir ou somente ter que estar com o outro. O homem, humano, se lambuza tanto do outro ser humano que não consegue se suportar, aí vem a violência, o entojo, a dor, a revolta, a droga da droga, a riqueza e a pobreza, a violência moral, corrupção. É o nojo que o homem tem de si mesmo. O nojo que o ser humano tem do outro, da sua espécie. Se comem uns aos outros numa voracidade, num canibalismo torpe e sem sentido. Não, não estou sendo fatalista nem tampouco pessimista. A felicidade só se é conquistada individualmente. Não preciso do outro pra ser feliz, antes, o altruismo é só um quadro pendurado na parede. e precisa ser visto dessa forma. Admirado, adornado. O amor? Ah, o amor é importante quando o outro não passa por você carregando um saco enorme de coisas que você não precisa ver o que há dentro. Eu abro esse saco se eu quiser. Não me force a nada. Tô cansada de gente. É tanta e tanta gente passando nas ruas, indo e vindo, falando alto, preocupadas com tanta coisa imbecil. ou não, mas que não me interessa. Fico feliz e dou graças a Deus por existir a música, porque me livra de vozes. Eu passo entre essa gente e me torno igual. Ajude as criancinhas pobres, ajude, eu apenas gostaria de não ter que saber mais disso, que elas existem. Odeio coisas iguais, mas sou igual. Todo mundo é igual. É? Tá. Olha, me deixe só. Não estou infeliz, nem sou egoísta. Só quero ficar só, entre letras, panos, sono, risos de mim mesma, de lembranças que só eu gosto de ter e não valem nada pra ninguem. Canso de gente se passo uns poucos dias tendo que ver gente todo dia. Preciso me isolar na minha torre e nem sou Rapunzel. Tambem não preciso deixar tranças crescerem e nem quero que venham me buscar. Minha impertinência só é minha e preciso ficar só, sem gastar meu latim com tanta babaquice humana. Sou intolerante mesmo. Tô cansada de gente. Já pensei em conseguir um gato de novo pra criar mas tenho medo de me arrepender. A dependência de qualquer coisa ou pessoa pira meu cabeção. Felino não é gente mas tenho medo de cansar dele tambem. Mas o bicho pelo menos não vai encher meu saco me cobrando coisas nem colocando em minha cabeça pensamentos que eu não queria pensar, sentimentos que eu não queria sentir. Só precisa se alimentar e receber meu carinho quando eu quiser, num oportunismo claro e institivo. Ele precisa disso pra sobreviver. Muito mais honesto da parte dos bichos. Fico boba com a cara de uns quando digo isso e fico dando suspiros profundos de impaciencia por estar cansada de gente. Quanta surpresa! Você não cansa de gente? Eu canso e digo que canso. "Até de mim?"..É, até de você. Aliás, não tinha cansado até voce me perguntar isso. Por ora estou cansada de gente. Bicho humano. Preciso descansar e voltar a quere-los por perto, no mais oportunista tambem dos momentos, vazios ou valiosos, que me façam descansar e esquecer que sou gente tambem. Infelizmente preciso ser sociável. É o oportunismo ou apenas a institiva necessidade de alimentar meu ego nojento..de humana.
'...todas as cartas são...'
Cartas, ah, as cartas de antigamente. Só quem cresceu escrevendo e recebendo cartas entenderá meu saudosismo. As cartas eram ansiosamente esperadas, talvez porque fossem as respostas ao que havíamos perguntado, mas também porque eram, sim, um bálsamo finalizador e curador da tal ansiedade em recebe-las. Para mim era sempre um ritual escrever cartas. Desde pequena minha mãe me ensinou toda uma aristocrática e tradicional forma de escrever cartas, do início ao final, até à postagem. Me colocava sentada na mesa da sala grande da casa onde morávamos, pegava aquele bloco de papel que era específico para escrever cartas, com aquelas folhas fininhas, delicadíssimas, e, de início, por ser pequena, escrevia com lápis, para poder apagar os prováveis e normais erros pueris. Aos poucos pude ir escrevendo de caneta. Começava sempre e invariavelmente com o cabeçalho, tipo: "Itapetinga, 22 de novembro de 1975". Depois, cerca de 3 linhas abaixo, a saudação: "Querida prima, Lau...
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beijo tia! :-*
SAC