Dia da consciência que não é negra.

Não era pra ter esse rosto, essa pele, essa cor.
Não era pra ter esse cheiro, essa cara, essa dor.
Não era pra ter esse medo, essa cisma, essa veia.
Não era pra ter essa boca, esse olho, essa coisa.
Não era pra ter esse risco, essa noite, essa sombra.
Não era pra ter esse urro, essa garra, essa unha.
Era pra ter a cara lavada, bonita, cheirosa?
Era pra ter a sombra da noite, doentia, nervosa?
Era pra ter a foice, o martelo, a coifa, o saco.
Era pra ter a couraça, o sangue azul, o paço.
Era pra não ter o que não tem.
Era pra ser o que já foi.
Era pra ser o que virá.
Era pra não ser o que também sou.

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