resumo


No bilhete na sala o papel parece querer voar. Salta aos olhos à primeira vista o resumo de tudo. O resumo de uma historia que se dizia e gritava por ser eterna, até unilateralmente falando, no coração louco do outro. Tão incrível saber-se eterno. Tão idiota e ingenuo e quem acredita nas palavras soltas é mais absurdamente tola ainda. O crédito que se dá aos desejos são tolos e se resumem depois em um papel com 'P.T. saudações', um pedido de desculpas e um infame 'Você é super especial". Nada mudou, nada foi conquistado, tudo não passa agora de mentiras e passado. O museu insiste em ficar vivo num cérebro, aqui, louco pra ter uma amnésia imediata de acontecimentos de ontem. Só restam lembranças que agora são trocadas por desejos de novos acontecimentos futuros, que tragam de novo esperanças. Não, não há mais certezas. Já se foram todas. Não há mais a passional tentativa de ser feliz, o que tem que ser feito, foi feito. O passado mandou e obedecemos. A cruel e desvelada dor de não se ter certezas. Odeio incertezas e dúvidas. Elas são a assinatura de um comportamento instavel. Até as tenho, mas tomando-se uma atitude, escolhendo, é aquilo ali, e acabou. É bom cada um ser e seguir seu próprio caminho mesmo, já que a caretice de amar apenas a uma pessoa é a minha doutrina. A leviandade em que se tratam hoje as pessoas e a facilidade em que se diz "Eu te amo" é a minha desesperança no bicho-homem. Mas eu também sou dessa espécie e devo ser também leviana e cruel. Sou. Mas amo intensamente e direcionadamente. O outro volta a levar uma vida mais sem graça que aquele papel em cima da mesa cheia de coisas escritas. Escolhe-se o que é mais desejado. Volta ao vômito. Vomita mesmo no prato que comeu. Escolhas são a cara de quem as desejam. Tenho piedade apenas dos que sabem o que fazer e nao fazem para serem felizes. O desejo me leva a acordar vendo aquele papel sem graça na sala. É só um papel com coisas escritas que agora nem fazem mais sentido. Ultimas obrigações e pedidos. Não devem mais fazer sentido mesmo. O dia vai ser longo e o zumbido do museu, o silêncio e cheiro de formol vão ser sentidos naquele papel algum tempo. O enjôo do dia inteiro e a falta de fome. Os besouros voando no cérebro e comendo as entranhas no estômago, torturando e molhando os olhos. Mas já se há o costume a bilhetes e bilhetes. Eles são os tesouros do velho baú cheio de vida. É a vida pulsando e escrevendo uma história onde eu sou o personagem principal. Bilhetes na caixa com outros dentro. O museu da memória, empalhado. Ali está. Na caixa. O resumo de tudo que vai ter cheiro apenas de papel guardado. O outro vai sentir dor e a caixa de lembranças não será de papel, será perpetuamente encrostada no coração e jamais será esquecida toda uma história intensa e ponte para descobrimentos importantes. Eu gosto disso. A caixa estará ali, na minha estante, enquanto que uma mente carrgará o bilhete por aí, eternamente, na cabeça. O resumo de tudo.

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