Brasil perde a graça de Glauco.

Por Maurício Ricardo

Em http://charges.uol.com.br/emails-comentados/2010/03/12/brasil-perde-a-graca-de-glauco-3

'Vai ter sempre alguém pra dizer que isso acontece a toda hora no Brasil, com todo tipo de pessoa. Vai ter sempre alguém pra dizer que estou indignado por corporativismo, já que ele era meu colega de profissão. Haverá até quem diga que estou fazendo drama e jogando pra platéia.

Mas mataram o Glauco, junto com seu filho Raoni, Gratuitamente, dentro de casa. E isso é muito, muito triste.

Outro dia mesmo comentava aqui como muita gente está perdendo totalmente a noção do que é humor. Como estamos voltando quase ao circo romano, onde tudo o que é engraçado tem que terminar com degradação humana ou uma poça de sangue.
Glauco foi o exemplo mais claro de que é possível ser contraventor e politicamente incorreto sem perder o respeito humano e a graça, no sentido mais amplo e sublime da palavra.

Suas tiras falavam de sexo, droga, rock and roll, devassidão, solidão e apocalipse sem nunca perder uma genuína aura de bondade e inocência, por mais paradoxal que isso possa parecer.

Sempre houve um Geraldinho dentro do Geraldão.

O traço de Glauco é tão leve e desencanado que alcança uma elegância digna das galerias de arte moderna. Essa leveza vinha da alma e se traduzia também em idéias: seus cartuns políticos nunca precisaram ser ranzinzas, rancorosos, herméticos ou rebuscados pra passar uma mensagem cristalina como a água . E contundente como se essa água fosse despejada através de um balde na cabeça do homem público satirizado.

Me comove profundamente saber que, ao contrário do que poderia sugerir o estereotipo do cartunista – nós adoramos botecos e cervejas -, Glauco estava em casa, com sua mulher e seus filhos, quando foi covardemente atacado por bandidinhos provavelmente noiados de crack, essa merda assassina que espalha terror pelas cidades brasileiras.

Glauco foi uma grande fonte de inspiração pra mim.

O Brasil amanheceu sem graça. Não por acaso a palavra deriva de gratus, “agradecido”, em latim.

Obrigado, Glauco.'

Comentários

Cria disse…
Uma grandiosa homenagem a ele, parabéns pela inspiração, Helena ! Beijo.

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