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"Possuo, um cemitério meu, pessoal, eu o construí e inaugurei há alguns anos, quando a vida me amadureceu o sentimento. Nele enterro aqueles que matei, ou seja, aqueles que para mim deixaram de existir: os que um dia tiveram minha estima e a perderam.

Quando um tipo me ofende, já com ele não me aborreço, não fico furioso, não brigo, não lhe nego o cumprimento. Enterro-o na vala comum de meu cemitério. Para mim, o fulano morreu, faça o que faça já não pode me magoar.

Encontro na rua um desses fantasmas, paro a conversar, escuto, correspondo às frases, aos elogios, aceito o abraço, o beijo fraterno de Judas. Sigo adiante, o tipo pensa que mais uma vez me enganou, mal sabe ele que está morto e enterrado"

Jorge Amado, "Navegação de Cabotagem" (Memórias)

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