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"Era uma vez um Imperador que gostava muito de borboletas. Um dia mandou chamar o pintor mais conhecido e admirado do Império e ordenou-lhe que pintasse uma borboleta. O pintor disse que para pinta-la necessitava de uma casa grande e confortável, que estivesse situada no lugar mais bonito do reino, alguns criados e um prazo de três anos. O Imperador concedeu os pedidos. Ao fim de três anos o Imperador mandou chamar o pintor ao palácio e quis saber se ele já tinha pintado a borboleta. O pintor pediu ao Imperador que lhe fossem concedidos mais três anos de prazo, os mesmos criados e a mesma casa. O Imperador voltou a conceder os pedidos.Ao fim de três anos o pintor chegou novamente ao palácio e, em frente do Imperador, em alguns segundos, com traço firme e sem levantar o pincel, pintou uma borboleta, tão bonita que nunca o Império tinha visto outra igual. O Imperador, contente, mas surpreendido, perguntou ao pintor para que tinham servido os seis anos se ele fora capaz de pintar a borboleta em alguns segundos. O pintor respondeu que foram os seis anos de conforto e reflexão que tinham permitido a síntese, em alguns segundos, de uma multiplicidade de gestos..."

Alfredo Saramago, in Os Prazeres de Alfredo Saramago.

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