São Menininho.
Toda vez que vejo uma notícia de agressão aluno-professor, dessas notícias que vem por aí pelas Tv's afora, fico lembrando de quando fui professora. Claro, por falta de opção e por absoluta necessidade, porque de longe é o ofício que mais gosto. Pra ser mais sincera, não gosto mesmo. Pra ser mais sincera ainda, odeio..hehehe. Faço aquela análise dura e perversa, claro, vendo tambem o lado do professor, coitado. Ah, as professorinhas. Tenho um amigo que é cabeleleiro e se formou em Historia só porque admirava os professores conversando sobre a carga horária, tipo: 'estou apenas com 20 horas no Estado', 'Ah, minha filha, tive que pegar 40 horas, não estava dando...'
Bem, romantismos à parte, e voltando aos arroubos de violência dos pobres e inocentes alunos para com os infames e violentos professores, preciso recordar dos meus tempos de professora. Recordar é viver. Uma das escolas que ensinei, pelo Estado, era chamado de 'Carandiruzinho'. Nada, o mínimo que acontecia eram os alunos jogarem bombas nas salas de aula. Bobagem. Eu que aguentasse, como professora, afinal, o aluno sempre tem razão, não é mesmo?
Bem, um dos episódios bem 'lúdicos', conto agora: Estava eu dando aula, num belo e ensolarado dia, na verdade, 'encalorado', já que as salas eram verdadeiras caldeiras. Ah, bobagem, um calorzinho a mais, que que tem? A professora também que aguentasse 53 alunos, numa sala de sexta série, vindos da periferia. Bem, era uma aula tranqüila, porque eu tenho mesmo uma certa postura de milica, quando sou colocada em cheque. Um grupinho de alunas, doces e bem-educadas, que qualquer um chamaria de 'periguetes', mas quem sou eu para chama-las assim, já que são tão inocentes, não é mesmo?
Iam para a escola quase nuas, mas, que bobagem. Uniforme é coisa de gente careta e respeito então, nem se fala. Nada justifica a violência física, mas, e a violência do desrespeito, o que justifica? Bem, uma destas doces meninas começou a cantar alto na sala, rir alto também e meio que zombar de alguma coisa lá que eu até hoje não sei do que foi. Pedi que parasse, mas ela ignorou e começou a subir na cadeira e fazer uma dancinha sensual. Pedi de novo que parasse e disse que se precisasse pedir de novo, seria para que ela se retirasse da sala. Inútil. Na verdade nem sei porque escolhi contar esse episódio, já que tenho alguns bem piores, como o de um aluno que arrombou a porta da sala para entrar, depois que eu pedi que ele se retirasse, por bagunçar muito na sala. Ou de outro que me ameaçou de morte, enfim. Sem contar os casos de colegas que já levaram socos, etc.
Conto esse caso, porque depois recebi a visitinha da mãezinha da aluninha. Na hora que eu pedi, pela terceira vez que ela se retirasse, ela veio até a mim e disse que se eu fosse mulher, retirasse ela da sala, fosse como fosse. Lembro que naquela hora eu senti meu sangue ferver. Estava diante, não de uma menininha bobinha, mas de uma mulher, embora eu soubesse que ela era menor de idade. Impressionante como menores de idade sabem matar, roubar, agredir, não é mesmo? Escolas publicas tem menores em forma de adultos em series mais baixas. Normal. Eu disse a ela que sentasse, antes que a coisa toda piorasse. Ela continuou me provocando, gritando, rindo alto. Eu parei a aula, subi numa cadeira tambem e soltei um palavrão desses bem conhecidos, que começa com 'P' e termina com 'A'. Mas foi bem alto mesmo, porque eu queria que fosse ouvido nos infernos.
Os alunos pararam todos de olhar pra ela e olharam pra mim. Desci da cadeira, peguei no bracinho da fofinha, como se fosse uma barata que eu havia matado e joguei ela pra fora da sala. Ela era grande e meio fortinha, mas pra mim pareceu uma pena. Joguei ela pra fora da sala, literalmente. Não conto isso pra me 'gabar', não. Mas não tem santo que aguente. Trabalhar 20, 40 horas, isso em sala de aula, depois ainda levar trabalho pra casa, jornada tripla, quádrupla de trabalho e ainda ter que aturar uma fedelhazinha periguete atrapalhando minha aula!? Há professores que trabalham 60 horas, ou seja, saem de casa seis da manhã e só retornam a noite, depois das dez horas! Se fosse uma filha minha ia aguentar as consequencias tambem em casa, alem de na escola. Eu sou mãe de dois filhos homens, meninos ótimos, mas nada santinhos. O coletivo as vezes corrompe e incita aos arroubos mais insanos.
Peraí..é..é isso mesmo. Eu não desacredito que existam professores psicopatas por aí, mas acredito mais nos que estão ali, já sendo postos à prova, em contraponto à sua vocação, com salarios baixos, em situações de perigo, até. No outro dia, a criatura não estava quando eu cheguei. Na hora do intervalo, me chega a Diretora com uma senhora ao lado e a criaturinha, com cara de Madalena Arrependida. A Diretora já foi falando que a mãe iria me 'processar' porque eu havia xingado sua filha de todos os nomes possíveis. Que pena que eu não xinguei mesmo. Deveria ter xingado, mas tive paciência o suficiente para apenas enxota-la da sala. Ouvi tudo que tinha que ouvir e virei pra mãe da moça e disse que ela podia me processar, mas, quem iria processar a filha dela?
A vida, né? Contei minha versão e a mãe, uma pobre coitada quase descalça, me disse entre dentes que a filha era mesmo meio 'rebelde'. Falei que ela podia me processar, fazer qualquer coisa, mas a filha dela não iria mais assistir minhas aulas daquela forma, e, que por favor, se pudesse vir com ela, seria muito bom, para que ela assistisse ao comportamento da filha. Bem, ela não me processou e eu não tive mais problemas com a fedelha. A moça até melhorou as notas e eu do meio pro fim até achei que ela tava bem demais, do episódio pra lá.
Por que só os pobres coitados dos professores são crucificados, gente? Olhem o outro lado, o lado deles, por favor. O que leva um professor a agredir um aluno, em tempos de assédio moral sexual, mental, um monte de 'al', por aí? Ainda mais crianças. Peraí. Esse professor ou professora não está sobrecarregado? Ele não está ganhando pouco ou sendo cobrado demais, por acaso? Nada justifica agressões, mas porque a mídia é implacável em crucificar os pobres dos professores, em casos de uma suposta violência, onde os pais, que deveriam educar seus 'demoninhos', acabam por se aproveitarem de uma situação, para talvez se valerem de que estão educando seus filhos.
Mídia, páre. Vamos defender mais os professores e vamos dar mais estrutura e condição para que estes estejam mais equilibrados. Não vamos desorienta-los mais ainda, já que nada está a favor deles. Sou pedagoga e acho que não deveria ser, já que o ofício é ingrato. Ingrata tambem é a infame responsabilidade em educar, até no lugar de pais, que aproveitam o coletivo para se eximirem da responsabilidade. Criancinhas também são más, adolescentes também torturam, ainda mais em coletivo. Vamos dar mais notas altas aos professores e professorinhas. O boletim da boa educação agradece e nossos santos filhinhos tambem.
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