AbsTRATO.

Muitas vezes me vejo num poço fundo, sem saída, sem luz, sem chão, caindo, feito Alice. Não é só pensamento. É real. Muitas vezes me peguei vendo minha própria morte e os que me amam ao meu redor chorando e velando meu corpo ali, inerte e não mais rindo, e quente. Acabo sempre chorando a mim mesma. Vejo isso de cima, como um espírito perambulando no abstrato.

Muitas vezes também me vejo alegre, solta entre alguma natureza, com os braços abertos e o rosto olhando pro céu, pro sol fresco e sem problemas, rindo atabalhoadamente, sem preocupações, absorta numa felicidade que nem precisa de antecedentes nem precedentes. Muitas vezes me vejo assim e me encrava no peito uma paz indescritível.

Devaneios e viagens que me ocorrem, enquanto estou aqui, nesta terra cheia de contradições e que nunca, nunca nos afirma sermos totalmente felizes e completos. Tudo sempre falta. Se está bom, falta o ruim, se está ruim, falta um pouco do bom.  E eu me debato contra isso. Eu preciso ser feliz, mesmo que o bom falte ou o ruim esteja querendo se superar.

É o contraponto entre a felicidade e a esperança do que se não vê. A fé. Atravesso diariamente a ponte vislumbrando os dois lados e preciso fazer isso correndo. Parece que a ponte vai cair e eu preciso de outra forma de atravessar estes lados. O sangue ferve e eu fico ofegante. Quando chego em um lado, quero estar no outro.

Falo muito e calo pouco tentando entender o porquê de muita coisa, o porquê de tanta gente em minha vida, gente que eu jamais imaginaria que um dia estivesse ou saísse. Lugares que passo, vou e fico. E saio. Está tudo amarrado na teia Divina? É Karma? É espiritualmente riscado? É destino?

A ponte entre a morte e a vida. A felicidade e a tristeza. É a ponte do mistério que eu sou forçada a enfrentar todos os dias, invariavelmente. E os porquês permanentes subsistem. Envelheço e renovo todos os dias. Renasço morrendo. Morro e mato um pouco o que não quero.

Muitas vezes me vejo alegre, muitas vezes me vejo morta e triste. Dois polos que ceifam trajetórias. Ou podem querer ceifar. Impulsionam ou arremetem para um futuro, sempre futuro. Hermeticamente ou não. Vivo ou morro. Eu escolho, todos os dias.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O bordado - lado avesso.

'...todas as cartas são...'

Darwin, Lamarck, Deus e Eva.