Chato.
Tá ficando chato. Tá sim, muito chato. Acho que tá chato já eu me achar o ultimo pacote do biscoito, quando o assunto é respeito. É que a cada dia eu aprendo mais um pouquinho, mas também me pego envolvida num turbilhão de emoções e situações que me testam e me põem à prova. Todos os dias. Tá ficando muito chato isso de eu querer respeitar os outros, ser boazinha, amar incondicionalmente a quem acho que devo (de dever) amar, tratar aos outros como gostaria de ser tratada, sempre.
Tá ficando chato, porque eu espero dos outros que façam o mesmo. E é chato eu saber que nem sempre a recíproca é verdadeira. Nesse lufa-lufa me pego achando chato e pensando que a premissa de que 'quem abaixa demais mostra o traseiro' me vem como uma bomba sobre minha cabeça. E eu quero porque quero mudar em muitas coisas, para, num esquema bem 'auto-ajuda', ser a cada dia uma pessoa melhor.
É, ser uma pessoa melhor. Sei que posso ser uma pessoa melhor, mas tá chato demais ter que pensar em, por exemplo, não explodir de volta uma bomba, quando jogam em cima de mim uma bomba maior ainda. Tá ficando chato resolver ser boa demais, acalentar, desenvolver a paciência, estabelecer novos ritmos, entender melhor compassos de vida diferentes, tendo que ouvir, fazer, dizer, abstrair coisas que talvez não esteja sendo entendida.
Eu tô achando isso muito chato, até porque me vejo dentro de um poço fundo, me debatendo e pedindo socorro, apenas por querer viver em paz. Paz nas relações, paz nos amores, paz familiar, paz mesmo, em tudo. Nem todo mundo quer isso e é chato ter que cobrar dos outros apenas o que eu desejo no momento. Minha desolação é saber que é muito bom viver em paz. Mas tá chato me debater sozinha para isso. Tá chato, eu tô chata.
Talvez eu seja melhor mesmo quando me enxergo com roupas velhas, quando sou ruim, iracunda, rixosa, que não cuide de ninguém, nem queira dar uma de boazinha. Mulher hoje em dia não deve ser nada de boazinha mesmo! Mulher só, não, qualquer um. Tem que ser ruim, não cuidar, não zelar, não querer ser tratada como a uma flor sempre, não se colocar jamais numa situação mais frágil, tem que trair, desrespeitar, se vingar, etc. Respeito, então, nem se fala. Todo mundo tem que brigar, tem que maltratar um pouco ao outro, para se tornar um 'não-chato'.
Tá chato ter que me ver em paz, tá chato. De forma sistêmica, faço a ronda nos meus desejos, faço uma busca nas minhas estantes interiores e quero todos os dias mudar, até mesmo resgatando coisas boas, tantas vezes esquecidas. Gestos, palavras boas, afetos escondidos, minhas mãos carinhosas, meu olhar que sorri, desprezo total pelo desejo efêmero ao tratar as pessoas como coisas. Mudar também é resgate, muitas vezes. Não apenas aprender e apreender coisas novas.
Mas é chato porque ainda vejo resquícios de tantas coisas que não quero, nem resgatar, nem aprender. Me exaspera saber que não me respeitem mais, já que minha preocupação primeira (agora) nas relações todas é que venha primeiro o respeito. Depois, a atenção, o caminhar juntos, o compartilhar de alegrias e tristezas de forma sempre positiva, o cumprimento das palavras de amor ditas e até meio que 'prometidas'. E não estou falando apenas de relações amorosas.
Deixo de fazer coisas, por outros. Desço hoje do salto para caminhar entre pedras, pelo outro. Não falo coisas, apenas por saber que o outro não vai gostar de ouvir, ou ler. Não gosto de ver quem gosto triste ou lamentando algo que provoquei de desagrado. Mas, que chato isso. Talvez aquela outra, ou outra postura seja mais coerente com as relações de hoje, não sei. Só sei que acho que tá chato.
Tá chato, principalmente, porque eu nem acho chato me colocar assim, nem sacrificial. Tá sendo até prazeroso, gostoso. Acho apenas que tá chato porque sempre achei chato gente boazinha demais. Eu não quero me transformar em alguém bonzinho demais, mesmo porque acho que não vou conseguir. Mas, que custa, para viver em paz, abrir mão um pouco de mim, pelo outro?
Abrir mão um pouco de mim, pelo outro? Que chato.
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