Game over.

Aí, quanto mais você amadurece, mais você vai escutando os conselhos de sua mãe sobre as relações. Se não escuta mais, quando não a tem mais por perto, relembra, como se a cada situação, o som da sua voz ecoasse em seu cérebro. Dentro dessa reverberação de lembranças, um muro se ergue como num filme de animação, e aí você, independente do que os outros vão dizer, toma a sua decisão, se vai ou não transpor aquele muro.

Ha aqueles que insistem em não ouvir esse som da voz 'materna'. Talvez esse som não seja o materno, mas só o som do bom senso, da esperteza adquirida com o passar dos anos mesmo. É o minimo que se espera de alguns, que amadureçam e aprendam. Somos forçados a trocar de fases em qualquer game. Ninguém joga um jogo e quer ficar numa fase só, sem progredir. Reconheço apenas que alguns nem tem habilidade de jogar bem, talvez por isso não consigam ou demoram mais para passar das fases.


Um dos sons que mais lembro da minha mãe falando é aquele em que ela me alertava para ter muito, mas muito cuidado com o que se fala, cuidado com quem se anda e cuidado com o que você 'bota' dentro da sua casa. Talvez por isso sempre fui meio arredia em ir muito em casas alheias, nem aceitar que muita gente ande 'enfiada' dentro da minha casa. Ela alertava às mais neófitas mocinhas, que haviam acabado de contrair matrimônio, que tivessem cuidado com as 'amigas', por causa dos seus maridos. Careta isso, não é mesmo?


Hoje eu olho com um olhar sarcástico e, contraditoriamente, de compaixão, para algumas pessoas que, infelizmente, tem que passar pelos imbróglios da vida, para aprenderem a viver e meio que se blindarem. Eu tive que aprender passando, sentindo na pele algumas coisas, mas, parece que hoje as coisas acontecem com mais rapidez e nessa velocidade de acontecimentos, temos a oportunidade de aprender apenas com a observação do alheio, nem sendo necessário passar por aquilo. 


Gosto muito, mas muito mesmo de saber que gosto muito de ficar em casa e de ter em minha vida muito poucos amigos de verdade. Uma pessoa veio me contar uma vez sobre seus problemas num bairro novo, que estava morando, sobre fofocas e outras coisas, que estava sendo perseguida. Percebi que essa pessoa era o ponto focal da fofoca. Sim, porque eu não saio de casa para ir falar de ninguém para ninguém, em casa de ninguém, mesmo porque ninguém me interessa, a não ser que seja convidada, e olhe lá. Imediatamente aquele som da voz materna ecoa e eu, também imediatamente, vou aos poucos me afastando desta pessoa. É preciso fazer isso, para seu próprio bem.


Ai é assim, você não precisa ser anti-social, nem ser mal educado, não. Ando tão cismada que até a minha roupa para a lavadeira tenho estranheza em mandar, quando não a conheço. Quem está vendo minhas roupas, tocando-as, sabendo o que visto, tendo acesso ao que uso, às minhas escolhas? Se recebo um convite de alguém para ir à sua casa (fazer o que for) e sei que vou estar ali entre desconhecidos, logo me exaspero. Estarei aberta a saber delas e elas, de mim? Qual o grau de aproximação e o tipo de 'encontro' ali vai me expor muito? 


Já imaginei que isso talvez fosse um problema de mania de perseguição, cisma demais, etc. Depois parei de me cobrar e vi que passei a viver muito mais em paz, permitindo que esses 'muros', desses sons, sejam meu escudo. Me dão força, me fazem ser mais eu, mais forte, fortalece a minha fé, me tornam mais segura que minhas energias periféricas não serão sugadas, nem tampouco precisarei me esforçar para viver e fazer coisas que não quero. Passei a expurgar da minha vida pessoas e coisas que, as vezes, disfarçadas de benfazejas, só traziam incômodos. 


Entendo que devo viver em sociedade e 'precisamos' uns dos outros e sei que estou aqui para o que der e vier, em casos de necessidade, para alguns, mas também entendo hoje que a minha força aumenta a cada vez que ESCOLHO aumentar minha força interior e ESCOLHO quem eu permitirei quem tenha acesso a todos os meus expedientes emocionais e de vida. Acho feio demais gente política demais, que não estabelece critérios nas relações. Como assim? É feio, é chato. No mínimo é estranho e me soa falso demais.


Mas isso sou eu. Eu sou careta, chata, fechada e hoje em dia, cada vez menos sociável (graças que a boa educação ainda permanece). Certamente que ainda hei de aprender cada vez mais, mesmo que não tenha que ficar lembrando de todas as coisas que minha mãe me ensinou e dizia. Aí eu vou chegar no que gostaria que todas as pessoas tivessem, a sabedoria da minha mãe, que, em seu altruísmo peculiar, tentava viver sem perturbações alheias, ao menos dentro da nossa casa. Aí eu quero isso ao menos dentro da minha vida e, como mãe, vou reverberando pro meu filho..falando, falando, falando..




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