Globeleza.
Era só dizer não: Sharon Menezes
Arturo Bonandi – CENPAH
Começo este breve artigo com duas premissas:
Não sou brasileiro
Não sou negro.
Não sou brasileiro
Não sou negro.
"Anteontem fui navegar no meu instagram. O que que eu encontro na pagina da Sharon Menezes, que admiro muito pela sua profissionalidade, beleza e coragem de estar trabalhando num canal da televisão como a Globo??? Vocês podem ver na foto a seguir.
Fiquei de queixo caído, e não pelos traseiros em mostra, coisa que deve ter deixado muit@s babando, se não, pelo flash back de uma imagem como essa. Pode ser que a minha imaginação seja bem fervida, mas de repente me senti no meio de um mercado publico da época colonial. Mesmos sorriso, mesma carne em exposição, mesma linguagem desviante que só quer vender um produto, esta vez com o consenso da própria mercadoria. Tirando o fato que a Globo continua vendendo a imagem de que o carnaval não tem nada a ver com a discussão de temas, com o esforço de fazer memória da historia do mundo, com a afirmação da cultura negra e por isso todo ano coloca uma mulher pelada na telinha, reforçando a ideia de que as “mulatas” servem somente pra isso; fica a pergunta do porque isso acontece justamente no mês da consciência negra. Claro, entendo que aqueles que se revestem do machismo como arma para afirmar sua masculinidade acham isso “fantástico” e provavelmente adorariam ver mais. Porém, este artigo não quer falar deste assunto.
Eu quero é falar, ou melhor, desabafar e questionar a escolha da Sharon Menezes. Sabemos que na historia dos negr@s brasileir@s sempre houve pessoas negr@as que se associaram ao poder dominante. Isso foi causa de traições, assassinatos, desgraças para muitos brasileir@s negr@s. Fazer que o mesmo negro assumisse o trabalho sujo do seu dominador foi uma estratégia que ainda hoje encontramos nas estruturas deste país. Negro matando negro, negro acusando negro. Agora, negro vendendo negro??? Achava que esta postura de sobrevivência dos afrodescendentes dentro da história brasileira tivesse diminuído, ou melhor, que a consciência da população afro-brasileira, especialmente aquela que tem um papel visível e de referência, tivesse suficiente força para dizer não. Mas eu estava errado, e como estou errado. Me pergunto: o que leva uma mulher negra já afirmada, já, imagino pelo cachê que recebem os atores, com uma certa segurança econômica, aceitar um papel no qual a sua própria “raça” vem sendo desvalorizada e, por cima, postar uma foto dessa num canal virtual acessado por milhões de pessoas (a fotografia já foi removida do instagram). E ainda tão importante aparecer na Globo as custas de milhões de mulheres negras que, no somente no Brasil, continuam sendo apresentadas como objetos de prazer e que são rebaixadas a serem usadas e desconsideradas nesta terra amaldiçoada pela racismo velado??? Um contrato coma GLOBO chega a comprar a consciência de qualquer um neste país???
Talvez pelo fato dela ter a coragem de usar o cabelo cacheado deu me a impressão que ela era diferente e que podia fazer a diferença. Engano meu. E ai está ela com a cara no meio dos traseiros das “ mulatas”. E´ tão difícil dizer não Sharon Menezes??? Depois de tantas pessoas que lutaram para a igualdade neste país, é tão fácil deixar uma consciência ser comprada??? Ou talvez esteja escrevendo a mais uma consciência “embranquecida”."
http://racismoambiental.net.br/2013/11/era-so-dizer-nao-sharon-menezes/
Comentários