Jedi.
É que são muitas informações. É que também, qualquer um, depois
das redes sociais, é um crítico (‘escritor’) em potencial. Não há mais nenhuma
preocupação com elaborações textuais sem erros gramaticais ou semelhantes, inclusive. O
negócio é escrever ali e esperar a repercussão, positiva, negativa..ou nula, mas escrever. Mas,
é tanta informação que me falta inspiração. É que tenho sofrido muito com essa orgia de informações. É,
sofrido. A orgia está intensa e todas as sensações de prazer que uma orgia
poderia me trazer, se assemelham a leões devorando uma caça, enchendo suas
barrigas e dormindo, para, no outro dia, voltarem a caçar novamente e assim,
viverem nessa repetição.
E estou metamorfoseada e repetitivamente e diariamente metamorfoseando nessa
enxurrada de informações, numa rapidez ululante. Tudo que aprendi, simplesmente
parece não fazer mais muito sentido.
Tudo que me dizem hoje deve (no sentido de obrigação) fazer sentido, já que
sinto como se o conhecimento (para inspiração) que tenho não me
valesse de nada na hora de sentar aqui e escrever. Todo mundo hoje é entendido,
é sabedor, é mestre, é repórter, é escritor, é fofoqueiro, é inteligente, é um monte de
coisa. Na minha peculiar e agonizante modéstia e prepotência intelectual, percebo minha
letal impotência diante do quadro que se apresenta diante de mim, diluindo meu
desejo de compartilhar palavras, venham estas recheadas do que forem. Receio o pessimismo, ironizo o otimismo.
Ser aceita (aqui) então tornou-se minha angustia, de certa
forma, já que, se compartilho sentimentos, sensações interiores intensas, sou
auto-ajuda. Se passeio no meu universo natural, no meu cotidiano, vida pessoal,
experiências, estou me expondo demais e
tudo que disser será (ou poderá ser) jogado contra mim em algum momento; se compartilho essa
metamorfose, já que não sou de todo hoje extremista cult radical (alias, tomei
certo nojinho disso) estou renegando valores e não sendo mais aquela, sou igual a ‘todo mundo’, já que o ‘todo mundo’
hoje, é pop. Se despejo aqui todo um universo intenso dessa atormentada Tsunami
mental, posso ser atacada por alguns melhores, bem melhores, sendo emparedada e
fuzilada. E posso ser também emparedada e fuzilada por vários que conheço,
ledos blefes, que liquidificam qualquer informação e bebem esse suco, sem saber
nem o que estão misturando. Seus excrementos são fétidos, inclusive, sendo bem
má.
Da mesma forma, os puritanos de plantão não saberão filtrar
o cerne do que poderia ser apenas uma descrição de um ato corriqueiro, de uma
admiração, de uma experiência curiosa temporária ou de uma analogia,
interpretando como desejassem. Os desafetos apontarão o dedo e os que me adoram
poderão me odiar ou me amar tanto que provocarão inveja aos que não assumem que leem diariamente o que escrevo. Sinto nostalgia do tempo em que não me preocupava com isso. A
arte de escrever passa por um desprendimento material, desprendimento ‘disso’ aqui e
transcende – até que a morte separe o autor do escrito e deixe para sempre ao leitor a palavra, a letra. E eu estou muito aqui
ainda.
Estou perdida, então, já que meu estado de profunda tranqüilidade
interior (matéria e imatéria) hoje se confunde com essa agonia entre o prazer
nas palavras, orgásmico, e esse convite sempre a essa Babilônia moderna (virtual demais), que
rejeito profundamente, mas é absurdamente inevitável. Aí fico letárgica. Aí
fico só, sem expressar publicamente o que poderia se transformar em palavras e enternecer almas, ou fazer rir, ou chorar, ou provocar.
Escrevo e escrevo numa solitária, ora florida, ora na cor nude. Quando verbalizo, falo, não ecoa da mesma forma. As pessoas estão muito preocupadas com elas mesmas para OUVIR. Os que leem um pouco, o fazem por gostarem mesmo, por curiosidade ou para copiarem para as redes sociais. Assumi que não sou mais tanto Cult, ouço Axé com Fela Kuti, danço arrocha com Kant e assisto à Rede Globo com
Neruda. E dando uma forte banana aos imbecis que criticam esse todo. Nessa
mistura, sou confundida com todo mundo e acabo sucumbindo à Epistemologia da
minha própria humanidade. Preciso me adaptar e isso é o que deve preceder a
qualquer voo nas palavras. A qualquer viagem textual.
Prefiro ser cega no sentido dessa angústia, tal qual Édipo,
que não se cegou por um erro, por culpa, mas por excesso de informação (Foucault*). Preferi parar um pouco, mesmo que esse pouco seja muito tempo, até
encontrar o prumo de novo. Até sentir o que vale a pena, se me fadar a um
Editor de Textos e ali morrer, ou
publicar, passar nessas vias virtuais o que meus dedos anseiam em escrever e em minha
mente pulula.
Vivo, então, nesta paz agonizante, como um monge que sofre pela paz
mundial, cortejando o POP, degustando vez em quando o CULT, por desejar mudar e me adaptar a alguns, maltratada pela
auto intolerância social e pelos mais rasos, esperando a inspiração que me
enternecerá e me despojará, talvez, finalmente, de qualquer receio.
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