Tempos líquidos.


O sociólogo polonês Zygmunt Bauman é um dos intelectuais ativos mais respeitados da atualidade. Com 89 anos, Bauman já publicou mais de 50 livros, tem produções citadas em grandes universidades e, com ajuda de sua clareza, vendeu mais de 200 mil livros mundo afora – um marco significativo para um teórico. Em um de seus livros mais famosos, “Amor líquido”, ele trata sobre a fragilidade das relações humanas e como a sociedade está tendo dificuldades em se comunicar e manter laços afetivos.

Na atualidade, com tudo acontecendo na velocidade da luz, os relacionamentos não foram feitos para durar. Um exemplo disso é a rapidez com que você se conecta a alguém via Facebook; e se desconecta mais rápido ainda. Bauman, no entanto, nos faz atentar a duas coisas: – Há uma grande diferença entre fazer uma amizade olhando nos olhos e fazer uma amizade no Facebook. – Há uma diferença maior ainda entre romper uma ligação pela internet e rompê-la frente a frente. Jean Sartre dizia que precisávamos criar um “projeto de vida”. Mas isso parece fora de moda, pois as pessoas não tem a mínima ideia do que vai acontecer com elas no próximo ano. Quem dirá saber como será a trajetória de sua vida. E isso impacta nos relacionamentos, tornando-os frágeis como uma taça de cristal. “Não há como ter um plano para uma vida num mundo em que a vida acontece de maneira episódica.”

As sociedades foram individualizadas e a democracia está ficando fora de moda. Passamos de sociedade de produção à sociedade de consumo à fragmentação da vida humana. Para Bauman, durante a vida você precisa criar a sua própria identidade, pois não nasce com ela. E, se não bastasse passar a vida moldando uma identidade, você também precisa continuar redefinindo-a porque os estilos de vida mudam com o tempo. Bauman acredita que entre as mudanças históricas mais significativas, duas parecem irreversíveis. A primeira delas é a globalização: “Estamos todos conectados ao globo terrestre; se algo acontece na Malásia, pode afetar diretamente uma criança em São Paulo.” Já a segunda aconteceu durante a revolução pós-moderna nos anos 1980, quando uma mulher falou ao vivo num talk show que nunca tinha tido um orgasmo, pois o seu marido sofria de ejaculação precoce.Esse tipo de informação, apresentada ao estilo Big Brother, começou a revelar acontecimentos da intimidade. Relatos que até então só seriam ditos para o padre (caso fosse católico) ou para amigos muito íntimos.Mas algo mudou e nós instalamos microfones nos confessionários.E assim, vivemos todos em meio a solidão e uma multidão ao mesmo tempo.

O vídeo abaixo é uma aula sobre a individualização da sociedade, democracia, laços sociais, comunidade, internet, pós-modernidade, dentre outros tópicos refletidos por uma das grandes mentes da atualidade.   


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