Irmã Dulce.
Todos os dias eu tento ser perfeita. Trato conhecidos e desconhecidos bem, fico me policiando nas mínimas coisas, me cobrando modéstia, chicoteando minhas costas com a cinta do meu pai para ser sempre bem educada, cerceando meu orgulho e demonizando meus brios pudicos, para não ser absurdamente preconceituosa, como creio ser a essência de todo ser humano (a não ser a de alguns seres iluminados como Irmã Dulce, etc). Invariavelmente dou a seta no carro para entrar à direita e à esquerda e nunca, sob nenhuma hipótese paro em fila dupla, principalmente em horario de pico, já que sei que vai atrapalhar o trânsito em no mínimo 500 metros numa avenida principal da cidade, por exemplo. Mas minhas entranhas enrolam quando vejo gente fazendo isso, e brigo e esbravejo.
Nunca ouço meu som em casa de forma que imagine, de longe, que vou incomodar o meu vizinho. Nem se quiser dar uma de boazinha e tentar persuadi-lo a ter um melhor gosto musical. Não, acho isso improvável. Nessa linha de pensamento, nunca escuto nada, nem vejo TV num volume que agrida meus ouvidos, nem os de outrem. E se alguém me diz que está alto o som, sofro como se tivessem me dado uma facada no peito, como se tivesse agredido tambem o outro com a mesma facada. Verdade, não gosto de desagradar a ninguém. Lembra que disse que tento ser perfeita sempre? Mas vou ali agora dizer a meu vizinho que o som do carro dele está alto demais.
Sempre sorrio pro garçom e digo as palavrinhas mágicas. Nunca ultrapasso em faixas não permitidas, nem que fique a viagem inteira atrás daquele caminhão irritante.Tenho a mania chata de escutar as pessoas. É, ouvi-las bem, olhando nos olhos. As vezes até a pessoa acha que não tenho nada para falar, nem contar, já que sempre prefiro ouvir, antes de falar. No trabalho tento sempre ser o mais humilde possível, já que sou ávida por conhecimento e gosto de aprender sempre tudo em qualquer tempo, e rápido, para poder ser o mais eficiente possível. Nas relações de amizade sou naturalmente fiel e muito, muito generosa, já que me compadeço de verdade com o sofrimento e vicissitudes humanas. Me solidarizo e ajudo como posso, sempre. Mas tenho ficado triste em saber que nem sempre voltam de verdade para agradecer e/ou manter a relação no mesmo nível. Tento lidar sempre com a verdade, e mentira, seja grande, média ou pequenininha, me exasperam profundamente (e compactuar com elas também).
Poderia aqui citar várias coisas que TENTO ser e fazer. Claro, sempre na intenção de ser perfeita, mas jamais serei. Tenho observado que não adianta muito ser e fazer sempre coisas que na sua cabeça está sendo correto, que não será, no todo. Passo por coisas que chamo de "precipícios involuntários", situaçoes que jamais imaginaria passar, mas num piscar de olhos, lá estou eu, envolvida, às vezes até sendo tachada de coisas que não sao compatíveis com nada do que descrevi acima. Não adianta eu me afastar de alguém pelo simples fato daquela pessoa ser a mais mentirosa e ardilosa, que vai de encontro a tudo que desejo ser (de bom), porque serei fria, inconstante. Me sinto 'empurrada' nesses precipícios, as vezes por um segundo de confiança, de um mínimo crédito ainda nas pessoas, na humanidade.
Não adianta eu dar seta no carro sempre se, em uma única vez que nao der, serei crucificada e perderei pontos na carteira da boa conduta. Parece que, ou me cobro muito ou as pessoas estão o tempo todo na espreita, o que também me mortifica, já que sou ingênua muitas vezes e não vejo as cobras venenosas que passam na minha estrada. Não, não sou santa nem criança, nem boba. É que conservo a simploriedade infantil de ser feliz, de ser grata, de andar correta. Mas um erro, um erro que, infelizmente traz consequencias (porque todos os erros trazem, pelo menos na maioria deles) ou um desacerto, ou um tropeço, ou um dia de mau humor, parece que azeda todo o feijão da sua vida. Ouvi alguem dizer que me cobro e me acuso por coisas do passado que julgo ainda dever. Ué, e isso não é bom? Estar e querer estar perto de quem amo, dos filhos, família, pessoas DO BEM, por exemplo, é indulgenciar meu passado, agora no presente? Então, aplausos para mim. Seguirei nessa linha, até morrer, perfeita, talvez.
Aí eu vejo pessoas cometendo os mesmos erros, até piores, colocando debaixo do tapete, ou talvez sendo perdoados, ou talvez cultivando suas mentiras, comprando pessoas (sim, com dinheiro mesmo), e estão aí, apontando o dedo para mim, porque não compactuo com práticas que não vão de acordo ao que aprendi (e sou canibal de aprendizados). Me vejo impaciente e intolerante mesmo com os tempos em que vivemos, chatos, em que não posso achar demais tanta apologia (a qualquer que seja o tema) a beijo gay, às exacerbadas campanhas anti preconceitos, sem sentido, onde nem posso mais chamar meu amigo negão... de negão. Mas perfeito é ser tolerantemente hipócrita.
Sim, tento ser perfeita, mas não sou e carrego esse sofrimento como mulher, mãe, amiga, profissional, cidadã. Acabo sendo muito, mas muito imperfeita, já que não aceito mesmo hipocrisia, falsidade, ingratidão, falcatruas, maledicência, desrespeito, exageros, desamor, violência e tantas coisas mais. Já que já traí e fui traída e tomei pavor a essa prática e hoje vejo que seria muito fácil não ter passado por nenhuma das duas situaçoes (e não sou moderna demais a ponto de minimizar o sentido dessa palavra); já que sim, prefiro estar em paz no meu canto, sem me meter na vida de ninguém, do que estar com muitos amigos e receber tapinhas nas costas com mãos sujas de veneno. Sim, fiquei cismada e é o fato de tentar ser perfeita que me blinda. Não aceito não ser feliz, mesmo dentro das minhas imperfeições, e faço qualquer coisa para estar em paz. Não me vendo, não me implodo mais. Talvez quando eu morrer, serei perfeita, claro. Mas a vida continuará pros que me achavam imperfeita e isso é o que eu acho que tenho que aceitar. Aceitar dói menos.
Nunca ouço meu som em casa de forma que imagine, de longe, que vou incomodar o meu vizinho. Nem se quiser dar uma de boazinha e tentar persuadi-lo a ter um melhor gosto musical. Não, acho isso improvável. Nessa linha de pensamento, nunca escuto nada, nem vejo TV num volume que agrida meus ouvidos, nem os de outrem. E se alguém me diz que está alto o som, sofro como se tivessem me dado uma facada no peito, como se tivesse agredido tambem o outro com a mesma facada. Verdade, não gosto de desagradar a ninguém. Lembra que disse que tento ser perfeita sempre? Mas vou ali agora dizer a meu vizinho que o som do carro dele está alto demais.
Sempre sorrio pro garçom e digo as palavrinhas mágicas. Nunca ultrapasso em faixas não permitidas, nem que fique a viagem inteira atrás daquele caminhão irritante.Tenho a mania chata de escutar as pessoas. É, ouvi-las bem, olhando nos olhos. As vezes até a pessoa acha que não tenho nada para falar, nem contar, já que sempre prefiro ouvir, antes de falar. No trabalho tento sempre ser o mais humilde possível, já que sou ávida por conhecimento e gosto de aprender sempre tudo em qualquer tempo, e rápido, para poder ser o mais eficiente possível. Nas relações de amizade sou naturalmente fiel e muito, muito generosa, já que me compadeço de verdade com o sofrimento e vicissitudes humanas. Me solidarizo e ajudo como posso, sempre. Mas tenho ficado triste em saber que nem sempre voltam de verdade para agradecer e/ou manter a relação no mesmo nível. Tento lidar sempre com a verdade, e mentira, seja grande, média ou pequenininha, me exasperam profundamente (e compactuar com elas também).
Poderia aqui citar várias coisas que TENTO ser e fazer. Claro, sempre na intenção de ser perfeita, mas jamais serei. Tenho observado que não adianta muito ser e fazer sempre coisas que na sua cabeça está sendo correto, que não será, no todo. Passo por coisas que chamo de "precipícios involuntários", situaçoes que jamais imaginaria passar, mas num piscar de olhos, lá estou eu, envolvida, às vezes até sendo tachada de coisas que não sao compatíveis com nada do que descrevi acima. Não adianta eu me afastar de alguém pelo simples fato daquela pessoa ser a mais mentirosa e ardilosa, que vai de encontro a tudo que desejo ser (de bom), porque serei fria, inconstante. Me sinto 'empurrada' nesses precipícios, as vezes por um segundo de confiança, de um mínimo crédito ainda nas pessoas, na humanidade.
Não adianta eu dar seta no carro sempre se, em uma única vez que nao der, serei crucificada e perderei pontos na carteira da boa conduta. Parece que, ou me cobro muito ou as pessoas estão o tempo todo na espreita, o que também me mortifica, já que sou ingênua muitas vezes e não vejo as cobras venenosas que passam na minha estrada. Não, não sou santa nem criança, nem boba. É que conservo a simploriedade infantil de ser feliz, de ser grata, de andar correta. Mas um erro, um erro que, infelizmente traz consequencias (porque todos os erros trazem, pelo menos na maioria deles) ou um desacerto, ou um tropeço, ou um dia de mau humor, parece que azeda todo o feijão da sua vida. Ouvi alguem dizer que me cobro e me acuso por coisas do passado que julgo ainda dever. Ué, e isso não é bom? Estar e querer estar perto de quem amo, dos filhos, família, pessoas DO BEM, por exemplo, é indulgenciar meu passado, agora no presente? Então, aplausos para mim. Seguirei nessa linha, até morrer, perfeita, talvez.
Aí eu vejo pessoas cometendo os mesmos erros, até piores, colocando debaixo do tapete, ou talvez sendo perdoados, ou talvez cultivando suas mentiras, comprando pessoas (sim, com dinheiro mesmo), e estão aí, apontando o dedo para mim, porque não compactuo com práticas que não vão de acordo ao que aprendi (e sou canibal de aprendizados). Me vejo impaciente e intolerante mesmo com os tempos em que vivemos, chatos, em que não posso achar demais tanta apologia (a qualquer que seja o tema) a beijo gay, às exacerbadas campanhas anti preconceitos, sem sentido, onde nem posso mais chamar meu amigo negão... de negão. Mas perfeito é ser tolerantemente hipócrita.
Sim, tento ser perfeita, mas não sou e carrego esse sofrimento como mulher, mãe, amiga, profissional, cidadã. Acabo sendo muito, mas muito imperfeita, já que não aceito mesmo hipocrisia, falsidade, ingratidão, falcatruas, maledicência, desrespeito, exageros, desamor, violência e tantas coisas mais. Já que já traí e fui traída e tomei pavor a essa prática e hoje vejo que seria muito fácil não ter passado por nenhuma das duas situaçoes (e não sou moderna demais a ponto de minimizar o sentido dessa palavra); já que sim, prefiro estar em paz no meu canto, sem me meter na vida de ninguém, do que estar com muitos amigos e receber tapinhas nas costas com mãos sujas de veneno. Sim, fiquei cismada e é o fato de tentar ser perfeita que me blinda. Não aceito não ser feliz, mesmo dentro das minhas imperfeições, e faço qualquer coisa para estar em paz. Não me vendo, não me implodo mais. Talvez quando eu morrer, serei perfeita, claro. Mas a vida continuará pros que me achavam imperfeita e isso é o que eu acho que tenho que aceitar. Aceitar dói menos.
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