Relógio velho.

Sim, desisti de você. Talvez devesse levar em conta as suas mudanças. Das mudanças superficiais às mais profundas, reconheci as duas, já que você me interessava, não só por um sentimento natural de amizade que nutro quando quero, mas por uma certa obrigação que me imputava por nos conhecermos ha 'mais de 15 anos'. Sabe que importância dou a essa coisa de tempo, de cronologia hoje em dia? Nenhuma.

Parto do pressuposto de que a maioria das pessoas mudam. Digo maioria porque sim, existe uma minoria que se mantem estagnada, linear, ainda pubescendo e/ou adolescendo mesmo aos 30, 40 anos. Mas você não faz parte dessa minoria, disso fique certo. Você faz parte de uma maioria que muda e você também mudou. Mudou tanto que nos perdemos nessas mudanças e não adianta mais insistir nessa tecla idiota de 'tempo de amizade'.

Nos perdemos nas idéias, a intimidade e terceiros nos estragaram e, diferente do que a maioria diz, uma amizade antiga também pode acabar. Acaba mesmo, já que o entorno impõe erosões emocionais e os pedregulhos se espalham, doendo demais os dois pés. As reações ficam diferentes, as transformações emocionais causadas por perdas, frustrações e dores são sentidas de formas diferentes e foi assim com os dois indivíduos: você e eu. Em alguns momentos até te amei muito, profundamente, independente do seu amor. Percebi que isso também estava errado.

Fui percebendo esconderijos em suas ações. Fui percebendo rejeições familiares por conta daquilo que você mesmo sempre disse ser seu maior defeito e eu hesitava em explicita-los, para preservar sempre uma amizade. Não, eu sempre aceitei ao outro como ele é, mas, de repente tudo que eu aceitava em você estava sendo jogado apenas contra mim, porque o restante do seu nicho quase todo já havia se afastado. Minhas tentativas de aceitar sua negatividade e prostração se esgotaram. Percebi que, ao longo dos anos, não houve mudança positiva em alguns dos pontos que eu, ha anos atrás, admirava sobremaneira.


Mudou para pior e isso é desolador, não há regresso. Ao invés de progresso, o que julgo natural, desejava sempre um regresso ao sentimento limpo e naturalmente especial que tinha. Ensimesmadamente bate no peito que não se preocupa com o alheio e percebi que isso me inclui. E eu também mudei, de certa forma, já que não faz a menor diferença se você vai sofrer. Estou melhor, sabendo que sim, você pode não sofrer. Estou apenas impressionada em como eu estou melhor sem você por perto, sem você no meu espaço. 

E não digo isso como vingança ou de forma agressiva, digo isso de forma bem natural, já que minha bagagem de atenção, carinho, amor, e de outras coisas bem significantes ficaram mais cheias desde que me afastei e desisti de você. Aí, quem fica, ganha mais. O que aprendi é que jamais vou permitir que de novo alguém que me conheça profundamente mine minhas emoções, estrague minha auto estima, cerceie meus dons, queira apagar meu brilho, minta para mim, e, com desculpas de sinceridades, não acredite em mim e me entregue armas para que eu cometa suicídios emocionais. 

Desisti depois de tantos anos e ainda acredito que agora você vá sim estagnar. De certo que os poucos que sobrarem ao seu redor, talvez por obrigação espiritual/familiar, tenham mesmo que lidar com você, sabendo que suas virtudes já existiram, ou por altruísmo. Eu vou fazer parte do passado e ainda bem que não terei mais notícias suas, simplesmente porque não me interessam mais. Friamente digo que isso me faz muito bem. Repito, os que dizem por aí que amizades de 15, 20, 30 anos não acabam, estão redondamente enganados. Podem acabar, embora também possam se modificar para bem melhor se houver a sabedoria de entender as mudanças de cada uma das partes. O que você se fechou em entender e evitar mudar para um ser por vezes execrável.

Siga lá seu caminho que escolheu de sombras, paralisação e solidão que seguirei mudando, para melhor. Desisti de você, mas jamais desistirei de mim, já que o tempo é meu aliado e não meu velho amigo. Todos os dias nossa amizade se renova e é isso que quero para minha vida.

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