Aprender - 1

A UM JOVEM SOBRINHO QUE ESCREVEU "SEU ÓCULOS"

Será que você se incomodaria se o seu tio lhe desse uma dica de linguagem, meu filho? É sobre a categoria de palavras conhecida pelos lingüistas como “pluralia tantum”, uma expressão latina que quer dizer “somente os plurais”. Estas palavras em raríssimos casos, como “núpcias”, não têm uma forma singular; mais freqüentemente, porém, elas têm uma forma singular, da qual, no entanto, diferem pelo significado. Por exemplo:  “costas” termo de anatomia, na expressão “dor nas costas”, não é o mesmo que “costa”, termo de geografia, na expressão “O Brasil tem uns oito mil quilômetros de costa”; e o mesmo sucede, entre outros casos,  com “férias”, “fogos”, “fumos”, “restos”, que todos nós sabemos não serem o mesmo que “féria”, “fogo”, “fumo”, “resto” (compare “resto de comida” com “restos mortais”, por exemplo). 

É este também o caso da palavra “óculos”. Ela se distingue do singular “óculo” (que designa uma luneta náutica ou astronômica, e é também um termo de arquitetura, que dá nome a uma abertura circular ou oval numa parede) por significar sempre um par de lentes montadas numa armação e  destinadas aos dois olhos, e não a um só, como a luneta. 

Ora bem: se a palavra “óculos” é um plural, ela necessariamente imporá a seus determinantes (artigos, adjetivos, pronomes adjetivos e numerais) que com ela concordem em gênero e número; e aos verbos de que for sujeito que com ela concordem em pessoa e número. Assim você dirá: “OS óculos com armação de tartaruga CAÍRAM em desuso”; ESTES óculos SÃO de grau”; “MEUS PRIMEIROS óculos DATAM da adolescência”. exatamente a mesma coisa que você faz, e sempre fez,  ao dizer “OS fogos, ao que parece, SÃO uma invenção chinesa”. E foi também o que fez Machado de Assis, ao dar por título a um de seus contos, publicado em 1874 no JORNAL DAS FAMÍLIAS,  “OS óculos de Pedro Antão”.

Um beijo do seu
Tio Sergio.

[24.02.2012]

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